2 de mar. de 2006

Meu destinho é criativo. Um mês de negociações, tudo sempre muito difícil, muito xororô pra abaixar o preço, mas de qualquer forma, quem me procurava eram eles. Fiz manha e atrasei até pra mandar o contrato final, julgando até um pouco de descaso da minha parte. Dois meses depois lá estava eu embarcando para Salvador para a implantação de um sistema de gerenciamento de estoque de veículos para leilão. Hotel reservado por 5 dias e tudo mais. Apesar de não ser a melhor das fortunas, uma viagem de negócios é sempre uma boa pra dar um boost no ego e no curriculum. O Sr. Bosco era um senhor de uns 60 anos, metódico, calculista e às vezes um pouco chato e repetitivo. Era gerente do pátio, coordenava toda a equipe, as finanças e as decisões de risco. Graças a ele, minha estadia está sendo em um bom hotel e muita, muita comida. Até me incomoda, porque eu vim pra trabalhar, mas aqui eles são todos muito moles, muito lentos. Lentos, mas dirigem feito loucos. Todos aqui. Desde o primeiro dia, fiquei espantado e quis o mais rápido possível voltar pra São Paulo, onde o trânsito é muito mais calmo e seguro. Além de que eles tucham o máximo de gente possível num carro e vão. Um baiano, um coco. Dois baianos, dois cocos. Três baianos uma cocada, sete baianos uma baianada... e eles seguem isso à risca... E não é que morre o tal do Bosco? Todos indo para uma churrascaria, comemorar a venda de um grande navio, com ágio de quase 200%, ia no carro do gerente, mas resolvi ir com um outro capiau, num carro mais vazio. Chegamos na churrascaria, e depois de 2 horas esperando, fomos descobrir que o carro se chocou com um caminhão que cruzou pelo guard-rail e invadiu a contramão. Chapado de bêbado. O único fatal foi mesmo Bosco, os outros ainda estão no hospital. João Bosco da Cunha, 60 anos, deixa esposa, dois filhos e um programador a 2000 km de casa. Pensamentos divididos entre os pesares pelo finado colega de trabalho e que porra fazer agora da minha vida. Com o tempo as coisas vão se arrumando. Pelo menos não fui no carro. Cacete, será que vou conseguir receber direitinho? O pobre homem sendo enterrado. Poderiam de deixar entrar no escritório pra ir adiantando o serviço enquanto vão ao enterro? Não, não posso pensar assim! Pense bonzinho! Era um homem bom! Mas todos estavam de férias... os que estavam na empresa trabalhando no dia era somente por conta da implantação do meu sistema... Quer dizer que se eu não tivesse vindo, ele não teria ido almoçar naquele dia, naquela hora, naquele lugar. Consequentemente, ainda estaria vivo. Sou culpado então? Talvez uns 2%? Bom, vai saber quantas pessoas já não matei indiretamente.... de chutar uma pedrinha na rua, e por isso ser responsável por uma série de acontecimentos em cascata que poderiam até concluir no aperto do botão de uma bomba atômica... Confuso. Trabalhar assim, sob essas pseudo-pressões, é pior, bem pior... Não sei nem quem vai me pagar. Nem eles devem saber direito. O bom é que é tudo fio de Coroné, as coisas andam direito ou é ferro brabo.. Além de vagos, os pensamentos agora se tornam meio fugazes. Deixa quieto. Amanhã vou embora desse grande Largo da Batata.

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