7 de mar. de 2011

Necrópole

Essa noite os mortos vieram me visitar, perturbando o meu descanso. Logo cedo fui então visitá-los,
zelar um pouco pelo descanso deles.

A cidade dos mortos é um lugar pacato. Quase uma releitura em miniatura de uma cidade de outrora, distribuída em bairros ricos e pobres, com seus mausoléus imponentes fazendo sombra nos cinzários claustrofóbicos. Todas aquelas lápides reescrevem em pedra e metal quase toda a lista telefônica da metade do século passado, picotada e distribuída desordenadamente sobre aquela área silenciosa e pacífica - e pacífica de paz merecedora; aquela que só se alcança após toda a dor e sofrimento mais repudiável da condição humana, das piores desgraças e das mais inconcebíveis fatalidades. A paz que é a soma do silêncio deixado por toda última lágrima derramada em memória de alguém. A paz é o que sobra, é o que resta no fim de tudo. Quando o caixão desce, a viúva chora, os parentes se cumprimentam e trocam telefones novamente, vão embora, acendem velas e choram... depois que todos os eventos praticáveis acontecem, o que resta é uma dose a mais da paz que existe naquela pequena cidadezinha onde finalmente todos são iguais. Lá podemos ver igualmente os ricos e famosos convivendo com os incógnitos, todos igualmente acessíveis por nós, vivos; Os entes mais queridos em vizinhança com outros desconhecidos, todos igualmente inacessíveis por nós, vivos.