26 de abr. de 2008

É luto. Ou será que deu branco mesmo?

Antigamente a programação na TV era mais segmentada, acho. Pra nos divertir tinham os seriados de comédia. As novelas existiam para comover, sobretudo as mexicanas. Os filmes de terror, no fim da noite, pra assustar, os comerciais pra gente fazer xixi. Os noticiários eram pra informar. Falar do que está acontecendo, sei lá. Mas parece que os noticiários querem abocanhar uma parcela meior do que até pouco tempo atrás lhes cabia. Agora, noticiário é responsável por comover as pessoas também. Não que isso seja uma forma de manipular o pensamento, de forma nenhuma quero dizer isso. Claro que o lado emocional das pessoas não tem nada a ver com o lado racional. Quero dizer, uma pessoa que comprou um Marea ou um Brava sabia muito bem o que estava fazendo, não é?

Mas sem desviar tanto da idéia, aliás, indo bem diretamente ao assunto, estou falando do caso da criança que foi jogada pela janela. Faz um mês? Ou mais?

Os noticiários, sobretudo o da Globo, narram em tempo integral, como se fosse um de seus reality shows, a vida dos suspeitos pelo crime. As pessoas comentam diariamente sobre o assunto, como consequência, e sempre com um certo teor de estupefação.

Mas é pelo fato em si ou por como ele aconteceu? O que espanta as pessoas evidentemente não é a morte. Basta abrir o UOL - que recentemente aparenta estar meio sem pauta - falando de n (para todo n > 20) mortos em alguma estrada no dia anterior. O impressionante é ser uma criança, é ser o pai, é ser classe média. Quer dizer, se é que é isso mesmo.

Talvez o noticiário esteja querendo alertar a população de como é perigoso arremessar crianças da janela. Ou mesmo dizer que existem pessoas mais malvadas do que a gente supõe ser possível. Ou talvez simplesmente mostrar como existem monstros disfarçados entre nós, e como eles devem ser apedrejados como nos bons e velhos tempos.

Eu acho que não tem nada a ver. Tudo isso me parece muito pouco palpável, sei lá. Mas a última hipótese (do monstro blá blá blá), embora me pareça pouco provável como causa, acho que é a mais provável como consequência. Um elemento a mais para trazer o homem moderno para aquele padrãozinho tchoncotchonco de comportamento, aquela coisa politicamente correta - aquele cara que liga pruma central URA de atendimento e conversa de igual pra igual com seu interlocutor.

Mas a causa é que é o causo. Que causa é? Que faz esse caso, típica página 3 de algum fascículo aleatório do finado Notícias Populares, ser assunto de pauta de mais de um mês de noticiários? Quer dizer, o noticiário simplesmente com a intenção de informar a sociedade diria imparcialmente o ocorrido e depois sua conclusão, não é?

E mais, num país de 150 milhões de habitantes, qual a chance de um pai qualquer matar um filho qualquer em um determinado dia? E em 3 anos, que chance é essa? Será que é tão improvável??
E, desviando ainda mais, mas não tanto ainda, se é jogado pela janela, açoitado ou decepado, isso faz do caso em questão um objeto mais ou menos merecedor de publicidade? Isso me levaria a pensar. Se, depois que a menina caísse, o autor do crime ainda tivesse cometido alguma atrocidade a mais com o corpo morto, isso renderia mais alguns meses de noticiário? Aliás, será possível alguém ler isso sem querer me calar por uma suposta blasfêmia, como já o fizeram? Será possível pessoas serem racionais sobre nossos emocionais? Ou será que só os noticiários têm o direito de sacudir nossas emoções, de acordo com um determinado padrão que hoje em dia é que é o certo e bom?

Penso assim: caso este fato não tivesse ocorrido. O que estaria passando nos noticiários? Alguma coisa de menos importância? Ou outra coisa tão pouco importante quanto? Ou talvez algo de real importância? Em todos os casos, isso é preocupante.
Longe de mim pensar que seria algo de muita importância. Isso é para os paranóicos. Um paranóico típico que não sou eu poderia pensar que talvez estivesse ocorrendo algo tão complicado que merece que estejamos com nossas mentes ocupadas em algo tolo (não para a família da criança, mas pra todo o resto da sociedade) a fim de desviar a atenção. A ponto de um terremoto chacoalhar São Paulo e ainda assim ser o tema secundário das pautas.

Mas... e se na verdade não tivesse o que passar nos noticiários mesmo? Será que a mídia descobriu um calhau perfeito? Barato, simples e fácil, que bota todo mundo pra falar a respeito todo o tempo? Mesmo até do que um terremoto??

Os mais mais mais paranóicos ainda diriam que existe uma inteligência superior que domina a mídia e faz com que pensemos exatamente o que "eles" querem, e que nos moldemos conforme a misteriosa necessidade "deles".
Sabe o que eu acho? Eles são burros mesmo!! Alguém já parou pra pensar que o editor de pautas é um idiota mesmo, que ele não sabe nem ferver água, e foi colocado naquele posto de extrema responsabilidade sem ao menos saber a importância e a repercussão de qualquer atitude do mesmo? Aliás, isso não é nenhuma novidade no Brasil. Falta de responsabilidade é quase sinônimo de profissionalismo aqui e isso chega às instâncias mais altas dos cargos públicos e privados desse país.
Pode ser que essas antas acreditem mesmo nisso e sem ter uma intenção premeditada(oxalá tivessem, talvez) atraiam/nivelem a população pra essa esfera de pensamento.

Será que a síndrome do comportamento politicamente correto - a última etapa da destruição do ser humano - é um movimento regido por forças superiores? Ou será que é só uma tendência desengonçada, oriunda do comportamento irresponsável daquelas lorpas acidentalmente bem-afortunadas desse país?

Eu sei o seguinte: não é motivo para tanto. Eu, pessoalmente, me recuso a ler, assistir ou comentar a respeito. E você?

4 de abr. de 2008

Ê, paxão!!






Entre tapas e beijos, é ódio, é desejo, é sonho, é ternura...