12 de mar. de 2009

875 reais. Era o que eu e mais dois tínhamos para as cervejas. O plano era cruzar o mar, comprar cervejas e levar para onde faríamos a festa. Nunca imaginei que pensaria em como cruzaria o mar com toda essa grana sem molhar. Não era em crédito, não era dinheiro novo, virtual. Pior do que dinheiro vivo, era a soma de todos os assaltos-de-igreja dos sazonais habitantes da ilha onde estava. Um bololô, uma bagunça de notas amarrotadas, em formato de cantos de barracas e tubinhos de filme fotográfico. Paulistano otário. Enfiei na meia. Nas empreitadas de office-boy isso funcionava, bota no tênis, na meia. Mas o inimigo não era aquele zé-mané olhando meu tênis, era o mar. Como se carrega isso no mar, num barco que tem nele mais água que o próprio mar?
Dinheiro é dinheiro, molhado ou não. Lavado ou não.
Amarrei aquela porcaria de saco plástico no pé, cobrindo a meia. Que funcionou até a hora de descer do barco, na praia. Quem é o ridiclão com o saco amarrado no pé? Com certeza era o que diziam enquanto eu saía do barco e pisava naquela água da quaseareia da praia que batia no meu joelho.

blá, blá blá.

- Quando dá essa vassoura, esse isso, esse aquilo, e mais aquele outro?
- Ah, quarenta reais.
- Então o senhor me faz um favor, cobra esse daqui, e me dá isso aqui em Brahma.

O olho do japonês até brilhou quando viu aquilo. Trinta fardos de cerveja eram colocados naquela Saveiro pra levar o carregamento do continente até a praia.
O ridiclão da praia agora era o cara que abastecia um bote com tanta, mas tanta cerveja, que aquele coitado que passava férias na casa do tio rico da praia dos nababos pensou em como sua festa seria modesta.

O barco que quase afundou pelo peso ficou preocupado com o temporal que o pegou desprevenido no meio do caminho. E o cagaço, e o sorriso na cara da gente era tão, mas tão, mas tão diferente daquele sorriso picareta (da ascensorista do elevador do prédio do escritório de advocacia do doutor do primo do cara do carro da batida)...

... que deu pra supôr o quanto os sorrisos sinceros são raros e merecidos.