20 de dez. de 2009

Das poucas vezes que eu me vi no mato em meio aos bovinos, não soube o que fazer. Me lembro quando ainda era moleque e estava com uns poucos amigos, alguns mais capiaus, explorando trilhas. Fomos cercados por uma quantidade razoável de bois e vacas, não sei bem quantos, mas quando me dei conta estava rodeado deles. Rodeado intencionalmente; eles deram a volta na gente, era intimidador. Aí algum doido resolveu pegar uma pedra e jogar, elas se afastaram e saíram de circulação, e continuamos a trilha.

Na última vez, me lembro que eu estava encabeçando a trilha. Sei lá pra onde, exatamente. Aquela estrada podia dar em qualquer lugar. Mas as vacas começaram a me rodear e fiquei assustado. Tentei mostrar alguma soberania, mas estava num relevo desfavorável e me sentia mais ameaçado do que conseguia me fazer intimidador. A Pedra do Baú tem seus mistérios, e alguns deles não são em seus aclives, mas no sopé. Já fui castigado no mesmo lugar por vespas que se mantêm até hoje em minha memória e no meu tegumento, e toda cautela é importante.

14 de dez. de 2009

Gripe Americanina



Pelo visto eu não estou tão sozinho nos meus pensamentos paranóicos.

Quem se interessar por iniciar uma aberta e descabeçada campanha ostensiva de boicote à vacinação deixe um comentário. A idéia é quebrar todos os frascos e incendiar os estoques, agredindo violentamente aqueles que tentam aplicar veneno na população. Além disso, é desejável formar uma milícia estruturada capaz de dizimar as forças "pacificadoras" que inconsequentemente tentarão intervir nos atos.

Trabalhos III

Refletindo sobre o último post percebi que cometi um engano. Vender minhocas e bigatos não foi minha primeira empreitada como empresário. Na verdade, foi muito antes. Por volta de 85 ou 86, devia estar na terceira série, tive a brilhante idéia de fazer skates em miniatura de papelão e vender na escola. A idéia era interessante até: cortava um pedaço de papelão no desenho do shape de algum skate real que eu usavaria como modelo, no tamanho tal que ficasse bom para um boneco do comandos em ação ou playmobil. Usava umas 3 ou 4 camadas de cartolina para engrossar o shape, pintava com canetinha e colava lixa d'água. Depois, com plasticor fosforescente eu guarnecia as laterais, ficava parecendo as borrachas de proteção que os skates usavam naquela época. As rodinhas eram feitas com papelão enrolado e colado. Eu não tinha achado nenhum jeito muito melhor, mas depois de embeber o papelão em cola tenaz durante um tempo eu conseguia moldar ele e fazer parecer plástico.

O que ocorreu foi que usei o meu skate e do meu irmão como modelo pra produzir os primeiros, e levei na escola. Um amigo falou que queria que fizesse o dele também, e eu cobrei alguma coisa que hoje me dá a impressão de equivaler a uns 2 reais atuais. Alguns amigos pediram e fiz uns 5 ou 6 "custom-made handcrafted miniskateboards". Uma produção limitada, que dava uma certa manutenção - volta e meia alguém reclamava que a rodinha descolou ou que o skate dobrou no meio. Mas foi um dinheiro justo que, embora não tenha sido capaz de cobrir nem o gasto com canetinha, fez de mim um precoce artesão fora-da-lei, auto-explorando minha mão-de-obra infantil, sonegando impostos que eu desconhecia e fazendo apologia a atividades perigosas para crianças menores de 10 anos - além de criar e vender acessórios para os comandos em ação sem a autorização da dona da patente.

11 de dez. de 2009

Trabalhos II

O espírito de empreendedor fracassado despertou em mim aos onze ou doze anos. Durante as férias na casa da vó eu acordava cedo e, logo após o café, cavocava o canteiro de planta colhendo minhocas. Então ia para a prainha do Riacho Grande e vendia em latas por alguns centavos.

Funcionava bem, batia minha meta diária. A meta era calculada da seguinte maneira: o total de vendas diárias tinha que ser equivalente a no mínimo o preço de uma fanta. Não importava a quantidade de minhocas contidas na lata; se eu colhesse mais, era porque o dia era de sorte, e essa sorte era transferida para minha clientela. O importante era a fanta que eu tomava antes do almoço. Na verdade, o importante era beber uma fanta antes do almoço e subverter algumas regras de um modo justo e discreto.

Quase todas as férias eu fazia isso durante alguns dias. No começo era mais ou menos como eu descrevi. Em outro período, o negócio já tinha evoluído: eu vendia os bigatos. Uns bigatão gordo, bacana mesmo. Primeiro porque a vó já estava quase sem minhoca e ela reclamava que as pranta dela ia morrê. Segundo porque bigato era o que pegava. Tinha um véio que vendia "a granel" no armazém, num lugar meio longe da prainha. A idéia era comprar dele, levar pra prainha e vender por alguma coisa a mais. Não pensava nessa época que meu transporte até lá e tudo mais era subsidiado pelo feijão do almoço, comprado pela vó. Achava que era tudo lucro, e tudo viraria um belo dum refrigerante no fim do dia.

Uma vez eu tive um lucro absurdo vendendo ao dobro do preço costumeiro para um pescador que eu nunca tinha visto. Me pareceu que ainda que eu cobrasse mais ainda assim para ele estaria barato - o que era verdade, hoje me dou conta disso. Voltei para casa comemorando com um gibi, uma torta de morango e um refrigerante.

Evidentemente eu só fazia péssimos negócios. Para mim parecia bom, porque era mais do que zero, e isso já era uma coisa  fantástica. Subverter as regras e tomar refrigerante em dias de semana também me dava uma sensação tão prazerosa quanto um porre de terça-feira véspera de prova - e claro, a sensação de culpa também. Mas a maior recompensa era perceber que todas as regalias eram fruto do meu esforço e nada mais. No momento em que eu sentava na mureta ao lado da porta do bar e tomava minha fanta era como se eu percebesse de um jeito muito simples que eu podia modificar como as coisas seriam para mim, e que não haveria modo de fazer as coisas que me interessavam e viver em harmonia com as minhas vontades e interesses sem um esforço considerável de minha parte.

Adicionalmente, penso na questão do trabalho infantil. É capaz que,  se fosse hoje, e alguém me pegasse fazendo isso, me levaria para delegacia e indiciaria algum responsável por incentivar o trabalho infantil. Na verdade ninguém sabia da minha empreitada, nunca fui de misturar trabalho com família. Mas o mais curioso é que eu aprendi muito quando trabalhei antes dos dezoito. Aprendi o quanto vale o suor, a dedicação, aprendi o preço do erro e o paradoxo da relação entre prisão e liberdade.

Lugar de criança é na labuta.

10 de dez. de 2009

Trabalhos I

Outro dia me lembrei do meu primeiro emprego. Era uma locadora de fita de videogame, eu entrava umas 13h, depois que saía da escola. Atendia na loja e quase todo dia tinha entregas de locação pra fazer na casa dos clientes. A entrega custava uns 50 centavos de URV e ia pro bolso do entregador. Lembro que naquela época meu salário era de 70 URVs, então no fim do mês o acréscimo das entregas ajudavam bastante.

Naquela época não era tão comum ter câmeras nos elevadores. Minha diversão era visitar o último andar de todo prédio onde eu fazia entrega - aquele que geralmente dá saída pra caixa d'água ou algum solarium. Deixava a fita, pegava a grana e ao invés de apertar o botão do térreo, apertava o de maior número.

Muitas vezes não dava certo, ou a clarabóia estava trancada ou era a casa do zelador... mas as poucas vezes que eu tinha êxito compensavam. Aos 14 anos pude mapear do alto um pedaço considerável da zona oeste. Pacaembu, Perdizes, Pinheiros, Vila Madalena, todos lugares que eu conheci de cima. O tempo extra que a minha bicicleta me garantia na viagem era aproveitado dali do topo. Ver o mundo de tão alto para mim era diversão suficiente; queria ser aviador, ter um avião.

Naquela época não tinha Google Earth, nem celulares com máquina fotográfica. Não havia como registrar aqueles momentos a não ser na minha fátua memória e quase que acabei me esquecendo. Passando por uma rua, esses dias, é que me lembrei, e agora está aqui para que eu possa acidentalmente me lembrar algumas vezes mais, futuramente.

Remunerado e feliz, voltava para a locadora; no final do expediente botava no Nintendo a fita do Top Gun.

7 de dez. de 2009

E, de repente, fez-se a nova Emoção. Germinou espontaneamente, independente de qualquer opção ou decisão, no meio de uma poça de água suja e amarelada. Bem como qualquer outra praga, suas mudas sempre foram um motivo de desgaste e dispersão de energias valiosas e com alguns truques consegui manter o jardim seguro de infestações. Mas outro dia, ao lado do batente da porta do escritório, embaixo da mesinha do vaso, estava lá uma mudinha nova. Uma variedade diferente dessa abstração que julguei ser outra coisa, e por isso não matei. É uma espécie híbrida, evoluída. Parece Razão, mas não é. Não tem aquela cara apolínea, aquela cor de musgo, e seu gosto não é amargo.

É uma planta tão diferente que me faz ter motivo pra pegar um quadro branco e pintar novamente. A Arte vive nela e, embora não exista um motivo para tal, existe merecimento.

Salve, amigos.

13 de nov. de 2009

Eis que seria então lançado um novo filme sobre o fim do mundo. Dois dias antes do lançamento o mundo acabou de verdade e ninguém o assistiu.

19 de out. de 2009

Receita de miojo final

Esse é um prato que certamente vai mudar a vida de todo mundo que está acostumado com aquele mesmo miojinho todo dia, aquela coisa chata e sem tempero, que provavelmente em algum momento alguém assumiu que seria aceitável pro resto da vida.

Ingredientes:

1 pacote de miojo sabor galinha caipira (ou legumes)
3 copos de água
1 panelinha
1 mochila grande

caneta e papel.


Modo de preparo

Coloque a água na panelinha e bote pra ferver. Enquanto a água ferve, vá até o quarto e saque do guarda roupa quantas peças couberem na mochila. Quando a água ferver, volte para a cozinha, abra o pacote de miojo e despeje-o na panela.
Cuidado: retire o envelope do tempero antes de colocar o conteúdo do pacote na água quente.
Cronometre três minutinhos. Enquanto isso, pegue o papel e a caneta e escreva "OBRIGADO POR TUDO. ADEUS.".
Desligue o fogo da panela, escorra o miojo até ele ficar bem sequinho. Coloque-o em um prato e despeje quase todo o tempero do saquinho. Sirva-o à mesa, colocando cuidadosamente o bilhete embaixo do prato.
Finalmente, o toque especial, que fará dele algo inesquecível: abra a porta e saia. E nunca mais volte. E volte a viver sua vida do ponto onde parou.

18 de out. de 2009

Impressionante como duas linhas de texto podem me deixar pensando por dias...

3 de out. de 2009

Convertendo partituras musicais para Braille

Este post vai falar de um aplicativo chamado Delius, capaz de converter partituras digitais para Braille. Ele é uma aplicação web, de forma que não é necessário fazer nenhuma instalação e funciona independente do sistema operacional utilizado. O endereço para acesso é http://www.delius.com.br.

Ele foi desenvolvido inicialmente na intenção de prover material didático musical a alunos cegos, sobretudo do ensino superior, onde os mesmos convivem frequentemente uma tradição didática muito voltada para os sentidos visuais - a lousa pautada, uma partitura em mãos para acompanhar análises de obras, harmonias e contrapontos. Muitas vezes o professor tem necessidade de fornecer material didático adequado a um aluno deficiente visual, mas não têm conhecimento adequado nem das regras da musicografia braille nem do funcionamento de uma máquina Perkins, nem material apropriado para aprender.

Durante o desenvolvimento do módulo de conversão entre esses formatos, percebeu-se que talvez fosse tão importante quanto a própria tradução que o material traduzido pudesse ser reaproveitado. Esse pensamento foi responsável por fazer com que o aplicativo fosse desenvolvido como uma página da internet que atuasse como um repositório dessas informações, algo como uma "biblioteca virtual". Integrado com o lilypond, este repositório permite agora que cada obra possa ser disponibilizada em várias versões simultaneamente: seu original, uma versão em PDF para impressão, uma versão em braille para impressão (em uma impressora Braille) e uma versão em braille para observação visual - muito útil para o ensino da musicografia braille para videntes.

A arquitetura do Delius permite que o usuário compartilhe os arquivos caso deseje. As obras podem ser compartilhadas publicamente ou em grupos fechados, permitindo assim a criação de acervos privados, como os de bibliotecas, com restrição de acesso aos usuários pertencentes a cada grupo. Mesmo assim, cada usuário pode pertencer a mais de um grupo simultaneamente.


O funcionamento do Delius é muito simples. Basicamente, o usuário cadastrado deverá fazer upload do arquivo que deseja transformar e após isso mandar gerar uma versão em Braille. O formato de arquivo que é aceito pelo aplicativo é o MusicXML. Este formato é, hoje em dia, compreendido pela maioria dos softwares de notação musical, como o Finale, Sibelius, Capella e MuseScore, e foi desenvolvido justamente para facilitar o tráfego de informações entre diferentes aplicativos. Isso significa que o usuário pode abrir seu Finale, compor ou editar uma obra, salvar no formato proprietário do seu software e exportar uma versão no formato MusicXML (extensão .xml), que poderá ser entendida por um aplicativo de notação musical de outro fabricante. Ou, como no caso em questão, ser enviada para o Delius, que armazenará uma cópia e permitirá a conversão para Braille. A ferramenta criará, com isso, uma versão em arquivo de texto (.txt) que, ao ser enviado para uma impressora braille, deverá ter como resultado final a partitura esperada.

O uso da ferramenta é gratuito, e seu uso estimulado. Tem sido necessário mais voluntários que possam avaliar se os resultados obtidos atendem ao esperado e quais pontos podem ser melhorados.








15 de set. de 2009

O senador Eduardo Azeredo demonstra, com suas investidas relacionadas à internet, que acredita que traduzir o ético e o anti-ético para o âmbito legal pode ser uma solução eficaz para doutrinar as pessoas para que pensem e ajam corretamente. Não sendo suficiente o absurdo que envolve tais questões, ele ainda se propõe a desafiar a entidade mais democrática que já existiu na superfície do planeta, que é a internet. Uma entidade tão peculiar e tão além da sua real compreensão político-social que não é objeto de pauta frequente o fato de que ela é capaz de simplesmente omitir ou até desprover uma opinião da localização geográfica de uma fonte. Supôr que um sítio da internet que promove uma determinada idéia e que forma opiniões não precisa nem estar sitiado na superfície do planeta Terra é o suficiente para demonstrar como não existe na cabeça de tal político uma visão do mundo que cerca seu jardim. O que sugere também que suas muralhas erguidas sob os alicerces legais não pretendem proteger uma população medíocre e indefesa, e sim um calhamaço de ideais particulares antologicamente presos a um regime militar de poder quase irrelevante aos olhos do Brasil contemporâneo.

Servido de uma porcaria para comentários e consequentemente atendendo à possível demanda de um direito de resposta, cumprindo portanto as estúpidas exigências legais, esse blog expõe o meu repúdio à forma com que está sendo utilizada a legislação brasileira no sentido de coibir a manifestação da população, não só no ato de manifestar-se mas também de agir.

A crescente prática de transformar em proibido qualquer ação que não necessariamente prejudique o próximo mas que julgue o referido autor como um potencial criminoso é um grilhão transparente que amarra a população ao pé da mesa e a transforma em um animal doméstico, porém sem um dono definido.

Beba e dirija, fume no banheiro, transe com a sua filha ou com seu coroinha, compre uma lata de chicharro e faça com ela uma pizza de atum, peide silenciosamente e aponte para um cachorro. Mas respeite o próximo. Se conseguir fazer isso tudo respeitando o próximo, não será merecedor de penalidades, mas sim de louros, juntamente com muitos outros que hoje em dia se aproveitam do mesmo modelo de pensamento, mas tirando proveito de sacanagens ainda não tão dicionarizadas.

A guerra contra o terror devia começar de baixo pra cima, impedindo que tais influentes MENCIONEM usar a máquina legal como uma arma contra a população. Ninguém é obrigado a se sentir oprimido por manifestar contra ou a favor de uma pessoa, uma instituição, uma lei ou uma medida adotada. Ninguém é obrigado a acreditar nas práticas determinadas como corretas por seus governantes - isso permitiria às pessoas muitas coisas, desde abrigar um judeu foragido de um campo de concentração até recusar que uma vacina duvidosa para a cura de um suposto virus letal seja injetada em seu corpo.

Ao dizerem no senado que "caiu a censura na internet", assumiram obrigatoriamente a existência dessa censura. Algo que está muito fácil de ser percebido por aí. Algo que vai contra todos esses princípios americanóides aos quais fomos espostos nas últimas décadas, e que acabaram por transformar em nosso o tal do estúpido sonho americano, que é baseado numa tal liberdade que é feita de um pouco mais do que escolher livremente qual dos doze canais abertos da televisão sua família assistirá.

31 de ago. de 2009

Os aromas e as memórias

Uma tia minha, que era velhinha, tinha na casa dela um cheiro muito particular. Quando eu ia visitar ela sempre reparava. Na casa inteira tinha aquele cheiro. Não era ruim, mas não era também agradável. Com o tempo acabei gostando. Volta e meia sentia esse cheiro em outro lugar e gostava, porque me lembrava dela.
Outro dia eu estava comendo em uma padaria aqui perto de casa, sentado próximo aos banheiros. Eis então que, ao abrir de uma das portas, veio aquele cheiro de naftalina forte. A maioria das pessoas fez cara feia. Ouvi reclamações até.

Eu era o único ali que, feliz da vida, me imaginei comendo a comida da titia.

18 de ago. de 2009

Mais um filme de fim de mundo vai ser lançado aí essa semana. Achava que isso retratava um medo do povo, de que algo cataclísmico ocorra e mate muita gente, mas não é bem isso não. É um desejo mesmo. Não necessariamente das mortes em si, mas de uma vida mais emocionante.

Uma vez que o ser humano se nega fazer parte da cadeia alimentar, só pode se colocar na condição de vítima ante aos perigos ainda ditos como maiores do que a capacidade humana - as forças da natureza ainda mantêm esse posto.

E hoje em dia, na época dos reality shows, não é suficiente apenas assistir. O povinho quer participar. Quer que hollywood se espalhe pelas ruas de todas as cidades. Assim todo mundo pode ser o ator de um filme, ou de uma novela que passa todo dia na tevê. Um herói de filme de fim de mundo. Sua arma é uma bisnaguinha de álcool em gel.

11 de ago. de 2009

socorro o caralho...
socorro não é coisa que se peça...

5 de ago. de 2009

Experiência própria

Cuidado com aquela sensação louca e incontrolável de tomar uma cerveja gelada.

pode ser apenas sede.

2 de ago. de 2009

Se vira, mané!

- Chefe, a mídia está sedenta por um furo de reportagem... Dessa maneira não vamos conseguir manter a manobra da gripe sem especulações durante esse tempo...

- Você já sabe o que fazer, Smith... Derruba outro avião, isso aguenta mais uma semana...

- Já derrubamos ontem chefe! Da mesma companhia ainda, pra causar polêmica, e num país muçulmano... O assunto está esgotando rápido demais. Ontem já recebemos alguns telefonemas...

- Smith, nós lhe pagamos muito bem para resolver esses problemas. Faça algo que mantenha a imprensa ocupada, sei lá... Mande matar aquele tal de Michael Jackson...
Qual é a diferença entre iniciar o período letivo agora ou em 17 de agosto, levando em consideração esse suposto surto de uma doença letal? Existe alguma possibilidade do quadro se reverter em 15 dias? Ou estão esperando que algo aconteça até lá? A chance de todas essas crianças e estudantes universitários que estão cativos em casa, durante todo o mês de julho, mas que entram em contato com seus pais -que chegam diariamente do trabalho e do convívio social externo, é menor?

Alguém está cativo em casa?
Faz algum sentido pararem as aulas nas escolas e faculdades de todo o estado de São Paulo e não pararem, por exemplo, o metrô, que amuvuca milhões de pessoas todos os dias??

28 de jul. de 2009

Sem fretado?

Fiquei um pouco emputecido com essa proibição dos ônibus fretados numa determinada área da cidade. Não entendi qual foi a do Kassab. Ainda que polêmicas, as soluções adotadas pelo pessoal da gestão dele geralmente demonstram bons resultados, mas dessa vez achei que foi mal calculado.

Aí acordei hoje ouvindo uma rádio de notícias, que estava falando da situação do trânsito. As vias estavam bem menos congestionadas do que habitualmente, e diziam ter relação com a proibição dos fretados, e eu achei isso curioso. Quer dizer, é óbvio que as vias ficam livres se ninguém estiver circulando por elas. Só que, enquanto isso, o pessoal tá lá se espremendo no metrô.

Segundo essa notícia traz como título, "Restrição a fretados leva 6,3 mil pessoas a mais ao metrô".

Segundo outras fontes na internet, o metrô transporta diariamente 3 milhões de passageiros. Vamos melhorar isso então, com suposições grosseiras. Vou dividir isso em dois períodos do dia. 1,5 mi por período; Imaginando que 50% dessa quantidade se concentra em cada horário de pico - a hora em que o pessoal desce do fretado, vamos falar em 750 mil pessoas na hora do fervo.

Bom... 6 mil pessoas a mais no metrô, em 750 mil, não é mesmo uma quantidade muito significativa. Representa menos de 1%. Além disso, em um trem cabem em média 1200 pessoas. Com umas 5 viagens a mais, o problema está resolvido.

Agora, pensando em ônibus fretado, onde cada um carrega uns 40 passageiros, são mais de 150 ônibus circulando na cidade. Um ônibus tem 14 mais ou menos 14 metros. Enfileirados, mais de 2km de pista ocupada. Considerando a lentidão dos veículos, a folga dos motoristas e a enervante série de paradas de cada um, em lugares de grande circulação... a coisa começa a fazer sentido.

Mas não é confortável pras pessoas que estavam acostumadas com o fretado. E essas pessoas certamente vão pegar o carro e fazer a cidade ficar uma caca mesmo assim. Mas o cara que trabalha na Paulista vai ter que optar entre aquela nota preta de estacionamento e tudo mais - ou pagar 5,60 de metrô todo dia. Seja lá qual o esforço que isso demanda, o problema do trânsito requer solução acima de qualquer outro. Enquanto acharem que faz sentido trabalhar na Faria Lima, Berrini ou na Paulista, todo mundo no mesmo lugar, entrando na mesma hora, almoçando na mesma hora, nada vai ser solução.

São Paulo está longe de ser uma cidade confortável para se viver. Mas o paulistano, cheio de truques, inventa um jeito de tentar viver confortável. Um bom carro com um bom som, às vezes um livro, é suficiente pra aguentar confortavelmente duas horas parado no trânsito. Um ar condicionado também resolve o problema de usar um paletó no verão e ficar completamente encharcado e fedido. Uma academia num prédio de escritórios também faz com que as pessoas esperem o horário do rodízio. Talvez seja uma boa, pra começar a resolver alguns pontos, que esse engôdo em forma de conforto diminua, e que as pessoas comecem a se incomodar um pouco com a situação da cidade.

23 de jul. de 2009

Aí o tal do fulano que trabalhava desde a década passada num banco tomou uma cerveja e voltando pra casa a polícia parou. E aí ele ficou nervoso porque sabia do risco, e não foi exatamente cooperativo. A polícia encanou com ele, obrigou a fazer o bafômetro, acabou fazendo e pegou uma cana. Não chegou a passar da cadeia da delegacia porque não tinha espaço em presídio pra um caso tão besta como esse. Ainda réu primário... Mas, pelo ocorrido, perdeu o trabalho. E não conseguiu outro. O cara, coitado, trabalhou a vida inteira dando manutenção em caixa eletrônico. E de um, específico. Tirando isso, com que mais ele se diferenciava no mercado? Mas o mundo corporativo não tolera pessoas com antecedentes criminais. A vida pública, menos ainda. Resumidamente, isso lhe custou a vida. Não foi o preço da morte, claro. Mas foi o preço da vida.

Outro fumou um cigarro em um lugar fechado - dentro de uma loja. O zé polícia tava lá e repreendeu. O Outro não gostou de ser repreendido, achou um insulto. Multa. Custava o que ele precisava pra pagar a dívida do carro. Não pagou, pagou o carro. Tempos depois levaram o carro dele embora, e depois de 5 anos ele não conseguiu comprar outro. Ou não... Poderia ter custado mais... poderia ser uma cana... poderia ter perdido a vida inteira pela frente também.

Eu conheço pessoas que pegaram uma cana. Por bobagem, todas elas. Todas se ferram por isso até hoje, de um jeito ou de outro.

Reserve.

Cada dia pode-se fazer menos coisa. Hoje, vc não pode fumar em lugar fechado. Agora, vc não pode ter relações com uma pessoa menor de idade (mesmo se for seu namorado ou namorada). Depois, não pode isso. Não pode aquilo. Tem lugar que se seu filho de 17 anos estiver na rua depois das dez, e tomar uma surra, vc é preso por não ter botado ele pra dentro antes das 10. Mas que faça isso sem violência, porque se levantar o tom de voz pra ele e ele se sentir injuriado, e sua vizinha assistir à cena e ligar pra políca, vc pode também levar outra cana.

O mundo atual é feito de um mundo arrependido. Está na cara das pessoas a vergonha do passado. O Vinícius de morais se apresentava em programa infantil tomando um copo de uísque. Um episódio inteiro dos trapalhões, do começo dos anos 80, não poderia passar jamais na tv hoje sem uma edição absurda, cortando trechos do Mussum cachaceiro sendo chamado de urubu pelo Didi.

E a solução desse mundo arrependido é transformar o antiético em criminoso. Se não é ético, não é legal. Crime. Cana. Uma cana que custa bem caro.

Mas, como as coisas são ditas em prol "do bem estar social", então pode. Claro. Morrer é errado. Ameaçar a vida é errado. Viver é certo. Matar é tão errado que tem gente que considera a idéia de transformar o ser humano em um animal herbívoro.

Volta.

Cada vacilo pode custar uma cana. Isso significa que cada vacilo pode custar a vida. O Brasil não precisa de pena de morte porque praticamente já condena pra algo pior que isso todos aqueles que são condenados, naturalmente.

O erro desses babaquinhas estudantes piqueteiros é achar que a polícia reprime pelo uso da força. E aí fazem esse teatrinho ridículo que prejudica todos os peruanos intercambistas da USP. E não conseguem perceber uma coisa tão clara - que hoje, eletronicamente, podem te declarar como morto. Basta você ter um apontamento contra você, em um banco de dados qualquer, que já é o suficiente pra sua vida virar uma merda.

Sabe qual é o pior? Não dá nem pra argumentar. É satânico tentar impedir as "coisas boas". Pelo menos, aqui, ninguém lê mesmo.




PS - A Pitty é hoje a roqueira mais ROOTZ do Brasil pq em uma música recente ela diz "que me acha foda". Mas que bando de babaca é essa gentinha de hoje!

PS2 - Não, eu não tenho antecedentes criminais. Nem fumo.

19 de jul. de 2009

Revelação da natureza

Hoje tive uma revelação da natureza.

Fui desligar a televisão quando vi que, próximo ao botão, estava caído um pernilongo morto. Desses maiorezinhos até. Aí achei estranho, porque eu também tinha ligado o aparelho pelo mesmo botão, algumas horas antes, e ele não estava ali. O primeiro pensamento foi "Ué, mas eu não matei esse pernilongo! Quem será que matou?"

Considerando que eu não tenho animais e que também não tinha ninguém além de mim por aqui...

A única suposição é crer que...

Pernilongos podem morrer de causas naturais


Vou relatar minha descoberta à alguma revista de entomologia...

13 de jul. de 2009

Mal sabia Andrade que ele mesmo seria a menor das vítimas de seus próprios medos. Ah, se naquela noite ele tivesse parado o caminhão...

O Mauro não foi no enterro do pai. Não se conformava. Há mais de três anos que seu velho, o tal do Andrade, estava estranho. Não conversava, não comia, não trabalhava... virou um peso morto para a família, quase que da noite para o dia. E nem se podia colocar a culpa na bebida porque ele nunca bebeu, nem mesmo em festa de ano novo. Foi assim mesmo, sem explicação.

Do que ele morreu, ninguém sabe. Foi encontrado morto afogado no rio. Deve ter pulado da ponte, oi foi empurrado, não dá pra saber mais. Mas ele já estava se matando há muito tempo. Um ano antes, vendera o caminhão à primeira oferta e deu o dinheiro pra uma igreja para a qual teria se convertido mais ou menos na mesma época, sem nem que a família soubesse.

Mauro era o único filho crescido. Deixou de fazer o curso pré-vestibular para trabalhar, evidentemente que contra sua vontade; Todos os dias percebia que seus planos eram ofuscados pelo dessabor de ter que sustentar os pais e as duas irmãs pequenas simplesmente porque aquele que deveria fazê-lo, desistiu. Além disso, cada dia o ambiente em casa era mais pesado. Já estava cansado de ouvir sua mãe dizer àquele senhor catatônico que ainda quando passava a semana fora cruzando o país, ainda era um pai e marido mais presente no lar do que agora que ficava em casa.

Ninguém nunca entendeu a decisão do Andrade de largar a estrada, o sustento, a família e supostamente, depois, a própria vida.

E ninguém nunca entendeu que o que aconteceu foi que em um momento muito rápido, escolheu que não queria perder tudo que tinha. Que queria ver seu filho entrar na faculdade, as meninas crescerem, que ainda tinha muito trabalho para fazer para que sua família tivesse tudo o que ele outrora lhes havia prometido.

E exatamente por isso, naquela noite, naquela estrada, naquela neblina, ele seguiu seu caminho após ter atropelado um homem que trocava o pneu de seu carro, no acostamento. Foi tudo muito rápido. Um farol queimado dificultou ver onde estava a faixa. Uma curva, um deslize, e uma pessoa imprudente no acostamento.

Deveria ter parado. Prestado socorro ou sabe lá o que. Depois, achou que de qualquer forma a polícia o procuraria. 30km adiante, parou em um posto e verificou que não havia nenhuma marca no caminhão, nem nada que o fizesse parecer culpado. Ninguém viu, ninguém soube dizer nada. Andrade morreu sem nem saber quem foi a vítima, e ninguém nunca o procurou.

Ele era um homem bom. Quis voltar. Por muitas vezes pensou em se entregar, mas quem é que iria sustentar seus filhos? Como seus filhos iriam pra escola quando todos lá soubessem que seu pai estava encarcerado por homicídio? Naquele momento, ele pensou que a coisa certa a fazer era cuidar de sua família. Aquilo seria o seu segredo e ninguém nunca haveria de saber.

Com o passar do tempo, os motivos que o levaram à essa opção perdiam lugar em sua mente para um conjunto muito confuso de pensamentos. A culpa, evidentemente, o medo de descobrirem - seja por uma possível investigação, seja por falar dormindo à noite - e o desgosto por dirigir o caminhão. Julgou que a melhor coisa a fazer era falar o mínimo possível, procurar salvação, tentar interferir o mínimo na vida das pessoas, para evitar lhes fazer mal.

E depois de um tempo percebeu que se ao menos fosse preso, mesmo toda a vergonha do mundo ainda seria melhor do que ver sua família se desfazer na sua frente. Não havia castigo pior do que ver seu filho se afastar de seus objetivos. Se ao menos o Andrade tivesse tido coragem de contar a eles... Se ao menos, das possíveis e únicas opções erradas que ele tivera para decidir, tivesse escolhido a outra opção errada...
Ah se, naquela noite, ele tivesse parado o caminhão.

7 de jul. de 2009

A diferença entre rei e presidente? Bom, um rei tem o enterro que um rei merece...

Gestão da gerência de gestores gerenciais

Estava falando com o gerente do local onde estava trabalhando, que não poderia ficar muito tempo porque tinha aula do mestrado e precisava ir rápido lá pra USP. Uma criatura lá no banco ouviu minha conversa e depois me cutucou e perguntou:
- Você tem aula a essa hora?
- É, os horários da USP são meio picados, até meio desrespeitoso com quem trabalha...
- Mas vc faz faculdade de que?
- Bom, é mestrado, eu já me graduei...
- Nossa, mestrado... mas você está usando o tema da sua monografia?
- Bom, na graduação lá a gente não fala monografia, fala TCC, mas meio que é sim
- Não, não da graduação... a monografia da sua pós.. vc fez pós-graduação né?
- Como assim?
- Ué, você não fez pós? Como você entrou direto no mestrado?
- Mas...
- Porque é assim: você faz o bacharelado, depois uma pós-graduação, depois mestrado ou doutorado, dependendo.

Aí eu, pasmado, disse outra bobagem:
- Eu não fiz bacharelado, eu fiz licenciatura
- Licenciatura? O que é isso? Aquela coisa de dar aula? Ah, então vc fez magistério. Então vc precisa fazer agora bacharelado em pedagogia...

- Não, eu me graduei já, você não tá entendendo. Agora eu tô no mestrado, que ISSO SIM É pós-graduação.
- Nossa.. deve ter algum erro aí.. vai se informar lá na secretaria da usp porque tem coisa errada...

A coisa errada foi o MEC dizer ao Brasil que lato sensu existe.

6 de jul. de 2009

Reflexão financeira

Não vale à pena enfrentar fila pra fazer jogo das mega-senas acumuladas, sobretudo se você não está acostumado a jogar nem nas outras. Além da probabilidade de acertar é tão infinitesimalmente pequena, não existe muita diferença entre ganhar um milhão ou 50 milhões.

2 de jul. de 2009

Acho que visito a caixa de "quarentena" do meu webmail com tanta frequência quanto a "caixa de entrada". Isso porque é comum eu receber mensagens de amigos que ainda não estão com o endereço de e-mail autorizado para a caixa de entrada. Mas a grande maioria é virus. Não é nem newsletter, nem propaganda. É virus mesmo, geralmente em anexo. Mas o que mais chama a atenção nessas mensagens é que todas, sem exceção, possuem os mais abomináveis erros de português. Já aconteceu mais de uma vez de eu achar que uma mensagem era relevante ou idônea e clicar nela, e desistir de abrir o anexo ou clicar no link simplesmente por que as aberrações ortográficas delatam sua fraude.

Exemplificando:

"Comprovante de Depósito - N° 0839238
Comprovante(s) em Anexo(s) : Depósito-0839238
O dinheiro já foi depositado em sua conta e já deve está disponivel.
Segue na mensagem o comprovante de depósito bancário com os dados e valor, desculpe o transtorno. "


outro

" NÃO COMENTE NADA COMIGUEM !!!
Olha só, vou te mostrar isso, mais nunca comente comigo e nem toque no assunto,
Se fizer isso, vou ficar com muita vergonha, por favor deiche que eu toque no assunto com você.
Essa é a verdadeira história, isso que realmente aconteceu comigo.

Infelizmente foi o que aconteceu. [57,5Kb História de minha vida] "


também

" dados inlegais em seu profille!

Ouve uma denuncia contra o seu profille alegando usar dados ilegais e sua conta será banida em 72h por motivos de irregularidade.

Você está utilizando dados não autorizados. Para que sua conta não seja excluida do sistema, Clique aqui e siga as instruções no SAC. Atenção: Seu prazo para regularização é de 72h.

Atenciosamente
Orkut.com
"



Nunca imaginei que um verificador ortográfico pudesse ser transformado em um eficiente antivirus para e-mail...

1 de jul. de 2009

Uma vez, com uns 8 ou 9 anos, tive uma idéia genial para os meus pais pararem de fumar. Escondi o maço de cigarros do meu pai atrás de um móvel, na sala. No dia seguinte estava na cozinha e ouvi eles conversando sobre cigarro. Lembro do meu pai dizer algo como "Não sei onde foi parar aquele maço que estava aberto, procurei em todo lugar. Parei na padaria e comprei outro...". Um pouco chateado, tirei os cigarros do esconderijo secreto e deixei em algum lugar que fosse discreto, porém visível. No mesmo dia, lá estavam os dois maços de cigarro abertos, em cima da mesa.

A lição foi simples: tem coisa que a gente faz que não serve pra nada.

3 de jun. de 2009

Reflexão

De repente, ninguém mais fala naquele tal aquecimento global... não é engraçado?

27 de mai. de 2009

Quando Deus me desenhou, ele estava embriagado.

(e assim me fez, à sua imagem e semelhança.)

18 de mai. de 2009

Eis então que as criaturas que outrora reinaram nos períodos jurássicos saem dos esconderijos em que até hoje viveram furtivamente, longe dos olhares e dos radares do homem. Revela-se o elo perdido. Mantiveram por todo esse tempo o mesmo porte, a mesma pele dura e escamosa, as garras e dentes e o apetite por carne. Porém, evoluíram. Neste momento são não só ágeis e espertos como também são coordenados, são estratégicos. Buscam em grupo sua vítima e quando atacam, são fatais.

Pois bem.

Aí eu estou quieto na minha, aqui na minha casa, quando vêm um bando de uns quinze desses, e me sentam tanta porrada que meus ossos viram farelo, meus dentes vão parar dentro do meu pulmão e as entranhas viram um sarapatel pronto pra consumo.

Essa é mais ou menos a sensação diária de chegar em casa depois do trabalho... ou de acordar para um novo dia.

14 de mai. de 2009

Acordo ortográfico pra jacu

O novo acordo ortográfico da língua portuguesa foi assinado com o propósito de unificar o idioma português praticado nos países lusófonos Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Graças aos céus. A comunicação com nossos colegas de idioma estava ficando problemática a ponto de sair porrada na rua. Durante muito tempo ignorou-se os regionalismos e variações. Eram quase imperceptíveis. O contato diário no escritório com esse pessoal do Timor Leste, o tradicional churrasquinho de domingo na casa dos moçambicanos... esse contato intenso e cotidiano com outros lusófonos fez com que durante décadas não se percebesse muito as diferenças. É que oralmente nem dá pra perceber as diferenças de nacionalidade. Um moçambicano pode falar um pouco puxadinho, mas não muito diferente de um curitibano, de um piracicabano ou de um mano da zona sul. O vocabulário é igualmente similar e as palavras quase sempre têm os mesmos sentidos para eles e para nós. Arriscaria dizer que até as gírias de moçambique são coerentes aqui pra nós (afinal de contas, cá e lá igualmente fufutam os bradas com seus pom-pons, vendo as txunas catorzinhas). Essa integridade é o que temos por garantido quando temos uma língua forte, de tradição.

No entanto, a comunicação lusófona atingira sua plenitude e total integração apenas em sua forma oral e coloquial. É muito comum pegar um texto qualquer do Timor Leste e não entender lhufas. É um tal de Bocaiúva escrita aqui com acento e ali sem, óptimos e ótimos, infra-som e infrassom... Uma verdadeira xicalamidade.

E eu acho que estava na hora de dar um basta nisso tudo. Afinal de contas é o nosso idioma que fortalece todos esses vínculos diplomáticos importantes que temos com esses países. Quantas famílias brasileiras do interior de Santa Catarina não são descendentes de Guiné-bissauenses? E quem pensa na dificuldade que os mesmos andam enfrentando para ler as cartas de seus parentes de além-mar?

Essa medida chegou em boa hora e finalmente podemos parar de dividir o português em sub-idiomas. Chega de ter que escolher na instalação do Windows se vou usar "Português de Portugal" ou "Português do Brasil".

Isso tudo é culpa desses caras que falam que idiomas são organismos vivos. Bah... se isso fosse verdade, seria possível supôr um tal darwinismo neles. Que esses organismos, se separados fisicamente, passam por adaptações locais que se relacionam com seu material genético. Biologia é biologia, linguagem é linguagem. E que isso fique bem claro.



Ainda existe aquele tal de vós? que era 2a pessoa do plural?

12 de mai. de 2009

XVIIa. GREVE ANUAL DOS FUNCIONÁRIOS DA USP !!!

Participe da mais tradicional greve do funcionarismo público!
cerveja - linguicinha - sarau - trio elétrico - capoeira - dança de salão
e muito mais!!!

lute pelo seu direito de ser funcionário público e não precisar trabalhar!




participe de nossas reuniões. precisamos da sua colaboração para bolar alguma desculpa que pareça plausível para a greve do ano que vem.

12 de mar. de 2009

875 reais. Era o que eu e mais dois tínhamos para as cervejas. O plano era cruzar o mar, comprar cervejas e levar para onde faríamos a festa. Nunca imaginei que pensaria em como cruzaria o mar com toda essa grana sem molhar. Não era em crédito, não era dinheiro novo, virtual. Pior do que dinheiro vivo, era a soma de todos os assaltos-de-igreja dos sazonais habitantes da ilha onde estava. Um bololô, uma bagunça de notas amarrotadas, em formato de cantos de barracas e tubinhos de filme fotográfico. Paulistano otário. Enfiei na meia. Nas empreitadas de office-boy isso funcionava, bota no tênis, na meia. Mas o inimigo não era aquele zé-mané olhando meu tênis, era o mar. Como se carrega isso no mar, num barco que tem nele mais água que o próprio mar?
Dinheiro é dinheiro, molhado ou não. Lavado ou não.
Amarrei aquela porcaria de saco plástico no pé, cobrindo a meia. Que funcionou até a hora de descer do barco, na praia. Quem é o ridiclão com o saco amarrado no pé? Com certeza era o que diziam enquanto eu saía do barco e pisava naquela água da quaseareia da praia que batia no meu joelho.

blá, blá blá.

- Quando dá essa vassoura, esse isso, esse aquilo, e mais aquele outro?
- Ah, quarenta reais.
- Então o senhor me faz um favor, cobra esse daqui, e me dá isso aqui em Brahma.

O olho do japonês até brilhou quando viu aquilo. Trinta fardos de cerveja eram colocados naquela Saveiro pra levar o carregamento do continente até a praia.
O ridiclão da praia agora era o cara que abastecia um bote com tanta, mas tanta cerveja, que aquele coitado que passava férias na casa do tio rico da praia dos nababos pensou em como sua festa seria modesta.

O barco que quase afundou pelo peso ficou preocupado com o temporal que o pegou desprevenido no meio do caminho. E o cagaço, e o sorriso na cara da gente era tão, mas tão, mas tão diferente daquele sorriso picareta (da ascensorista do elevador do prédio do escritório de advocacia do doutor do primo do cara do carro da batida)...

... que deu pra supôr o quanto os sorrisos sinceros são raros e merecidos.

26 de jan. de 2009

Waiting songs

Depois que inventaram o sax soprano, a humanidade pôde desenvolver os call centers com espera. Antes de existir esse instrumento éramos obrigados a ouvir os irritantes bipes, tututus, ou até ter de ligar novamente mais tarde. Agora, graças ao sax soprano, podemos ficar horas aguardando para que sejamos atendidos, sem o menor sinal de stress. Interessante relação de mutualismo entre música e telemarketing.