28 de jul. de 2010

E viva a vida adulta. Comemoremos a aquisição do auto-conhecimento, da auto-reflexão, da capacidade de tomar decisões com a confiança de que nosso conhecimento é sempre suficiente para que o façamos com segurança; além do universo conhecido resta apenas o improvável. Celebremos também a superação da infância no aspecto físico, desde a simples capacidade de se poder ver o que há por cima da mesa da sala até o uso indiscriminado e irresponsável do próprio corpo na busca de produzir tanta endorfina quanto possível, o mais lícito dos vícios. E viva então os vícios, as dependências - e viva a independência, que permite ao homem ser dependente do que quiser, ainda que geralmente não se queira. É hora de ter orgulho por ter maturidade suficiente para saber orgulhar-se. Olhando para frente há todo um indefinido resto de vida a se viver, e o passado... é o que passou.
Mas o que passou eu não sei. Quer dizer, não sei mais tão bem. A maioria das lembranças lentamente vão se desprendendo do emocional e passam a virar apenas espectros, impressões mentais, fotografias de algo que aconteceu - já poderia ter sido com qualquer outra pessoa e já não faria mais diferença.

Aborrece... como é possível que o torpor da plenitude de ser adulto apague da memória todo o caminho pelo qual o momento presente foi conduzido... justamente por onde o tempo presente se justifica? Mas é. E de um momento para outro aquele neurônio que era responsável por te transformar no campeão do bafo agora é o cara que te faz trocar as marchas; aquela memória da barraca de camping montada no quarto da lavanderia foi sobregravada por aquela cena de atropelamento na frente do bar... tal qual se fazia com uma fita cassete velha.
Às vezes me pego encarando alguma daquelas coisas que estão comigo desde sempre, dessas que a gente não tem coragem de jogar fora, e lembro de histórias relacionadas, mas que parecem tão verídicas quanto os sonhos loucos das noites febris.

E não sei mais se a nostalgia é a vontade de querer viver o que já passou

Ou de querer que essas vagas lembranças simplesmente pareçam ter alguma relação com a realidade atual.


Porque tudo ficou distante, vago?