7 de jan. de 2010

No Portão 1 da USP

Vim caminhando da estação Cidade Universitária até a entrada da USP e me deparo com aquele bicentenário foco de alagamento no cruzamento da Afrânio Peixoto com a Alvarenga. Do outro lado da rua, um ônibus aguardava no semáforo. Corri e bati na porta, e o motorista fez um sinal de negativo com o dedo. Berrei: "me ajuda a cruzar a enchente, não consigo atravessar a pé!". E ele balançava a cabeça pra qualquer lado e me acenava com o dedo, como se não me ouvisse. Berrei mais alto. Uma hora ele se encheu e abriu a porta:
- Que você quer? Não posso pegar passageiro aqui!
- Só me ajuda a passar pela enchente, estou com roupa social...
- Não posso, vc acha que é assim, a gente dá carona pra qualquer um?
- Nao quero carona!! São 50 metros! Você pára depois da poça e eu desço...
- AAAAHHH mas ali é que eu não posso parar mesmo! Você tá achando que pode fazer essas coisas? Não pode, é meu emprego....
- Tá, falou. Tomara que você não precise nunca de ajuda.
- Não é nem por mim, é que não pode... [blá blá que eu não fiquei pra ouvir]

Entrei na USP, dane-se.
Pensei em pegar um ônibus no ponto, ou em ir a pé pra casa... Nenhuma opção era boa. O ideal era pegar na Vital Brasil, mas tinha que chegar até lá. Meu bilhete único acabou e aí eu seria obrigado a pagar duas passagens, sendo uma delas só pra me levar duas quadras, isso eu me recuso.

Então vi um cara no portão da academia de polícia, e fui até ele
- Opa... tudo bom?
- opa...
- O senhor não me deixaria cruzar por dentro da academia só para chegar do outro lado? Não consigo passar pela enchente a pé...
- Ahhh, não dá, sabe por que? Eu acabei de fechar a academia toda... como vai passar até lá se eu já fechei tudo?
- Eu sei, é que pela rua não dá...
- Mas e aí, eu já fechei tudo... Eu não vou abrir a academia par você passar, né, já fechei todas as portas, essa aqui é a última...
- Tá bom, deixa, brigado.
- Você queria o que, que eu abrisse tudo? Não posso, eu já fechei tudo, fechei a academia toda! Olha a hora!
- Tudo bem, eu não sabia, deixa, obrigado
- Obrigado eu! Mal-educado....

Fui novamente no cruzamento, pedi para um outro motorista de ônibus que me abriu a porta, cruzou a poça e me deixou em um lugar seco e seguro, e aí consegui voltar pra casa.

Sinceramente, o desleixo público com relação aquele cruzamento que sempre alaga não me incomodou tanto quanto a reação das pessoas que me negaram ajuda. Seus valiosos empreguinhos são ótimos pretextos para a cômoda omissão de um pedido de ajuda que, diferente da grande maioria dos pedidos, não era em nada lesivo. Diferente daquele profissional do semáforo, que faz carinha de triste e pede um trocado, eu não pedi nada senão um pouco de bom-senso.

O Brasil é o seu povo e, portanto, ainda subdesenvolvido.

5 comentários:

Anônimo disse...

Não generalize.

E não se omita da responsabilidade tb.

Arthur Tofani disse...

Generalizo sim e não existe motivo para não fazê-lo.

E se há algo que eu possa fazer de acordo com a minha responsabilidade em relação a isso, esse algo é levar a ocorrência a público e não me portar da mesma maneira - o que eu já faço.

Anônimo disse...

Tu é um alienado e deve ser ou da LER ou um reaça. não discutirei contigo.

Arthur Tofani disse...

Em primeiro lugar não acho que a posição de 'reaça' tenha alguma coisa a ver com o conteúdo desse texto em específico, é completamente despropositado. Em outro lugar acho que a gente não vai discutir mesmo, porque vc é um mané. Mané não discute idéias. Mané ofende as pessoas. Eu mostro aqui a minha cara e o meu pensamento. Saiba que é vetado constitucionalmente o direito de expressão de opinião sob forma anônima, o que torna sua opinião politicamente inexpressiva.

Maisa (amiga do re ) disse...

Já disse que adoro seus textos né!! Muito bons mesmo!